Aguas passadas...

Um dia sonhei em ser mãe. Lutei anos até convencer o papai que a hora chegara, e quando finalmente lhe planejamos, no susto você nos aconteceu... Os céus se moveram para lhe fazer existir, a iminência de perdê-la nos assombrou durante toda gravidez, não chegamos ao termo, antes da hora e de uma forma nada ideal você veio ao mundo.
Entorpecida, meu coração ficou contigo na incubadora, durante os 33 dias oramos incessantemente para lhe ter em casa. Deus me fez firme o bastante para fortalecer seu pai, estável o bastante para agüentar todos aqueles dias do pós-cirúrgico e toda rotina da uti, decidida o bastante para ordenhar seu leitinho a cada 3 horas, e estar presente em todas as mamadas. E acima de tudo, Deus me fez forte o bastante para naqueles dias, não reclamar. Ele também moveu o coração das pessoas que trabalhavam com o papai, e ele pode estar contigo todos os dias, duas vezes ao dia, também o fortaleceu e lhe deu paciência para ouvir tantas vezes a mesma pergunta: Amanhã ela vem pra casa?
Quando finalmente você teve alta, a sensação de vitória de sua parte era plena, mas em mim ficou a frustração de não ter sido capaz de gerá-la por completo. Durante um ano inteiro eu não entendi o motivo até esses dias, quando contando nossa história para alguém ouvi a indagação: Foi a mão de Deus! A mente clareou, os olhos marejaram... Descobri que somos testemunhas vivas! Finalmente elaborei minha perda e entendi que não houve perda e sim uma demonstração de fidelidade. Assim como Ele nos prometeu enquanto você era gerada, Ele cumpriu.
Somos prova viva de que há um Deus a trabalhar, a nós fortalecer silenciosamente, em cada dificuldade, em todos os obstáculos, mesmo quando tudo parece sucumbir.
Daqueles dias nos restou somente você, da prematuridade ficou apenas a lembrança, você cresce sadia, sem seqüela, sem descompassos. Você corre, magricela, para nossos braços e nos faz sentir a plenitude de viver pela graça do Deus fidelíssimo.